quinta-feira, 2 de abril de 2009

[A Garota e a Estrela]

O mundo ficou mais vazio naquela manhã de domingo. Uma estrela pulsante de brilho e calor se apagava. Do outro lado do mundo a garota dormia tranqüila em uma madrugada de segunda.

A estrela se apagou sem aviso nos jornais. Nenhum astrônomo poderia haver prevido, nenhum fenômeno celeste anunciava sua despedida. E, todas as estrelas ofuscadas pela luz do sol, a garota não pôde notar a ausência daquela estrela. Foi somente quando a noite se fez presente e as estrelas brilharam no céu escuro que ela notou. Aquela estrela, uma das mais brilhantes, havia se apagado.

As noites se tornaram mais escuras, uma após a outra. Nem mesmo os dias eram mais tão claros quanto costumavam ser. A ausência daquela estrela se fizera tão repentina que seus olhos não haviam tido tempo de se acostumar com a escuridão. E as noites eram frias, e mesmo o sol parecia sentir a falta da estrela que iluminava a noite.

No outro lado do mundo, a garota se sentia triste. Sentada no topo de uma montanha, observando o céu, agarrando-se na vã esperança de encontrar a estrela ainda ali, saindo de seu esconderijo e rindo, brincando de esconde.

Foi quando o sabiá pousou em seu ombro. A garota tentou espantá-lo, não queria ninguém a observá-la em sua tristeza. Mas ali ele permaneceu, como ela a olhar para o céu.

Uma lágrima então rolou de sua face. E outra a seguiu. E mais uma. E tantas lágrimas a seguiram que em pouco tempo o chão ao seu redor tornara-se um imenso espelho d’água. Solenemente, o sabiá desceu de seu ombro direito para o chão.

Ela sentiu seu coração se aquecer. Com um sorriso estancando as lágrimas, a garota encontrou o que procurava. Ali, no exato ponto em que o sabiá pousava, a estrela pulsava um brilho mais forte do que nunca.


(Dedicado à minha amada avó, Maria Ignez Ribeiro, que nos deixou sem avisar em uma manhã de domingo.)