terça-feira, 20 de janeiro de 2009

[Clichês]

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que penso?"

Ah... Penso tanta coisa, penso sim. Mas não posso ser tudo o que penso.
Ou posso?
Tantos no mundo pensam ser tudo o que penso que sou que não podem haver tantos.
Não há nada mais comum do que o desejo de ser diferente.
Há padrão até no diferente. Há coerência em ser incoerente. Coerentemente, se é que me entende.
Há tanto desejo de diferença no mundo que se fossem todos os desejos realizados não haveria no mundo dois iguais.
E se não há dois iguais, por que então utilizo palavras de outros para dizer o que penso?
Ou será que não penso?
Às vezes penso que tudo o que penso foi antes pensado e enfiado na minha cabeça para que eu pensasse que penso.

Penso, logo existo?
Existo, logo penso?
Será que penso?

E nada, nunca, não haverá o que ser dito ou pensado senão palavras e pensamentos já formulados.

Em que pensar neste mundo
quando tudo já foi pensado?
Como gritar sobre o absurdo
se o absurdo é sempre gritado?

Como reclamar a liberdade
quando ser livre é ser prisioneiro?
O que falar em minha idade
se sou apenas metade do inteiro?

Como escrever minhas idéias
se todas as idéias já foram escritas?
Como dizer as palavras certas
se as palavras certas já foram ditas?

Como tentar sair do normal?
Como poder ser menos clichê?
Se tudo é sempre igual
neste imenso Lavoisier?



"Neste mundo nada se perde ou se cria, tudo se transforma."

Um comentário:

Henrique (geminilibre) disse...

A originalidade é tão somente uma excentricidade no tempo e espaço. É quando alguém consegue sair do comum, do padrão executando seu ponto e vista singular perante um fato.

Mas quando esse alguém sai do padrão e vê que é bom, passa a todos as suas conclusões, assim, a nova ideia se torna básica. Por isso este mundo é tão estranho e há a máxima: "é normal ser anormal".

E tudo quanto pensar vai ser clichê.

Parabéns! Bela poesia. Tema profundo. Até quando as coisas (ideias, pensamentos) ainda não foram usadas?