terça-feira, 11 de maio de 2010

[Ana e Bruno - Parte IV]

- Amor, acorda!
- Ahn?...
- Ana, amor, acorda!
- Que é que foi?
- Amor, você sabe que dia foi hoje?
- Ah, Bruno! Não vai dizer que você me acordou só pra perguntar que dia foi hoje!
- Foi quinta-feira, amor.
- Quinta-feira? Tá. Então significa que amanhã é sexta-feira e se eu não dormir agora não vou conseguir ir trabalhar. Boa noite.
- Amor, a gente tinha combinado. Quinta-feira é dia de discutirmos a relação.
- Ah, não dá pra deixar para amanhã?
- Não, Anita, tem que ser hoje. Não podemos quebrar o combinado logo no primeiro dia.
- E se a gente transferir para sexta-feira?
- Sem chance. Já somos adultos o suficiente para cumprirmos o que nos dispomos a fazer.
- Ah, meu senhor... Já vi que não tem jeito, NE?
- Não.
- Ai, ai... Então tá, né? Vai. Começa.
- Hum... Bom, eu fiz um roteiro de perguntas que devemos fazer um ao outro para começar, o que acha?
- É... Bem a sua cara...
- Caham! Primeira pergunta: Ana, durante esta semana ou em qualquer outro momento de nossas vidas, eu fiz algo que você não gostou?
- Não, Bruno. Não fez nada.
- Ótimo! Agora é sua vez!
- Vez de quê?
- De me perguntar, ué!
- Perguntar o quê, Bruno?
- Se você fez alguma coisa que eu não gostei.
- Ah... Eu fiz alguma coisa que você não gostou?
- Quando? Determine o tempo.
- Ah, sei lá, Bruno! Qualquer dia!
- Hum... Bom... Na verdade, fez sim.
- O quê?
- É que eu não gosto quando você chega em casa, vai pra cama e dorme sem mal falar comigo.
- Eu chego cansada do trabalho, meu amor.
- Eu sei, eu sei. Mas eu espero você chegar, todo feliz e com saudades e você age como se eu não tivesse importância na sua vida.
- Meu amor, você é a coisa mais importante da minha vida.
- Então promete que vai tentar mudar?
- Eu posso tentar...
- Porque este é o objetivo de discutirmos a relação.
- Ok... Eu prometo que vou tentar.
- Ótimo! Segunda pergunta: eu tenho alguma mania e hábito que você ache irritante u feio?
- Hum... Não que eu me lembre.
- Agora faz a pergunta.
- Ahm... Eu tenho alguma coisa que irrite você?
- Bom... Eu não gosto muito quando você deixa suas calcinhas penduradas no chuveiro.
- Bem, eu também odeio quando você deixa o chuveiro no inverno.
- Então por que não falou quando eu perguntei?
- Porque eu acho que faz parte do casamento suportar algumas coisinhas.
- Mas é pra isso que estamos discutindo a relação, Anita! Pra tentarmos mudar as pequenas “coisinhas” que podem desgastar nosso amor!
- Ai, tá bom! Não grita!
- Não tô gritando!
- ...
- Além do chuveiro, tem alguma outra “coisinha”?
- Essa sua mania de usar minhas palavras contra mim.
- Eu não estou “usando suas palavras contra você”.
- Aí! Tá fazendo de novo!
- Não estou!
- Não grita!
- Humf!
- ...
- ...
- Acalmou?
- Eu não estou nervoso.
- Que bom. Terminamos?
- Não. Já que começamos a falar de manias irritantes, vamos falar da sua mania de não lavar os pés antes de deitar.
- O que tem isso?
- Tem que eu acho nojento dormir na mesma cama de um par de pés sujos.
- Se não gosta, vai dormir na sala.
- Anita, não é por aí! Você tem que prometer tentar mudar!
- Ah, Bruno! Eu agüento tanta mania irritante que você tem e você não pode agüentar umazinha minha, que seja?
- Será que você não percebe que estamos discutindo justamente para mudar algumas ações e melhorar nosso relacionamento?
- Bruno, nenhum relacionamento é perfeito.
- Justamente! O nosso pode ser!
- Se nenhum relacionamento é perfeito, o nosso não pode ser. Se for perfeito não será mais um relacionamento.
- Isso, na teoria. Na prática dá pra ser.
- Ah é? Então porque você não joga fora aquela sua camisa velha e mofa?
- Eu não posso fazer isso. Aquela camisa foi autografada pelo Clint Eastwood. Tem um valor inestimável.
- Não deixa de ser uma camisa velha.
- Você não entende o valor de um autógrafo.
- O cara só rabiscou lá. Nem dá pra saber se tá escrito “Clint Eastwood” ou o hino da França de trás pra frente.
- Mas é um rabisco do Clint! Sinto muito, mas não posso jogá-la fora.
- Então eu também não posso lavar os pés antes de dormir.
- Isso é completamente diferente.
- Não vejo nenhuma diferença.
- Lavar os pés é uma medida de higiene. A camisa é uma relíquia!
- A camisa é um criadouro de traças!
- E os seus pés são transportadores de germes!
- Larga de ser maníaco, Bruno!
- Pára de implicar com o Clint!
- Não tô implicando com o Clint! Só não agüento mais essa camisa nojenta!
- Não é nojenta! Você por acaso diria que o Santo Sudário é um pano velho e nojento?
- Bruno, é completamente diferente.
- Não vejo diferença nenhuma.
- Tem toda a diferença.
- Você não me entende.
- ...
- ...
- Olha, dá pra gente dormir?
- Vai, Ana! Dorme! Não tô impedindo!
- Amor, eu tenho que levantar cedo para trabalhar.
- Já falei que não estou impedindo!
- ...
- ...
- Desculpa.
- ...
- Eu prometo que vou começar a lavar os pés antes de dormir, certo?
- Eu não vou jogar o Clint fora.
- Não precisa. Eu sei que é importante pra você.
- Jura?
- Aham.
- Ah, Ana! Eu amo você!
- Eu também amo você.
- Prometo que vou começar a voltar o chuveiro pro verão quando eu terminar o banho, tá?
- Isso. Obrigada. Agora vou dormir, tá?
- Tá! Quinta que vem a gente continua.
- Boa noite.
- Boa noite!
- ...
- ...
- Bruno...
- Oi.
- Mas bem que você poderia jogar aquela camisa velha fora, né?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

[Vida Cigana]

Postado originalmente em 8 de novembro de 2008

Pronto. É só eu começar a me acomodar em algum lugar que começa, lá bem no fundo das profundezas da minha alma, que me vem aquela antiga vontade de mudar, virar tudo de cabeça para baixo e começar do zero novamente.

O pior é que as mudanças são cada vez maiores. A primeira vez que eu me lembro de ter tido esta vontade foi... vejamos... provavelmente quando o útero da minha mãe começou a ficar um lugar muito chato e apertado para se morar e eu resolvi nascer.
Depois disso eu tinha uns 3 anos quando decidi que ser filha única era muito chato e sem graça, e resolvi pedir uma irmãzinha para meus pais.
A partir daí eu dei uma acalmada. Talvez tenha sido a mudança radical da maior para a menor cidade do Brasil que me tenha dado uma falsa sensação de eterna mudança. Como se isso fosse possível em Águas de São Pedro.
Enfim, fora as mudanças semanais da posição dos móveis no meu quarto, só voltei a mudar novamente quando fui levada para Goiânia. Aí baixou o capeta, as roupas foram ficando cada vez mais pretas, até por fim eu resolver pintar o cabelo (de preto). Foi um êxtase. Por cerca de um ano aquilo foi a mudança mais maravilhosa que eu já havia feito.
Mas tudo uma hora cansa. Com o cabelo não foi diferente, cansei de pintar e resolvi deixar o loiro natural crescer e partir para mudanças em outras áreas da minha vida.
Decidi finalmente que era hora de beijar. Oras, uma hora eu tinha que entrar para a vida agitada e beijoqueira dos adolescentes, né? Pois bem, beijei. E beijei de novo. E outra vez. Mas desta vez enjoei rápido; comecei a namorar.
E agora tomo um fôlego bem longo para contar resumidamente todas as mudanças nos últimos dois anos e dez meses desde que embarquei neste namoro:

- Saí da casa dos meus pais
- Mudei de cidade
- Fui morar com meu namorado
- Me tornei menos arrogante, mais sociável e levemente mais tolerante
- Mudei de cidade
- Fui morar com meu namorado na casa de alguém que eu nem conhecia
- Fui morar com meu namorado numa casa só nossa
- Tive cinco meses vivendo sem lar, pulando de casa em casa até resolver sair do país
- Vim morar na Nova Zelândia
- Fiquei numa fazenda cheia de vacas (é, aqueles animais que fazem "Muuuu!" - digo isto porque eu mal sabia) e pessoas que eu mal conhecia
- Voltei a falar com uma amiga de infância. E fui morar com ela (e com meu namorado, e com o pai dela) numa casa numa vila
- Comecei a trabalhar

E agora, um mês desde a última mudança, começo a sentir novamente essa vontade absurda de mudar. Mas o quê?

...

Bom, só sei que vou-me embora da Lan House antes que gaste todo meu salário e mude este blog para o blogspot.
O que não é uma idéia descartada.

por uma cigana, aí...

P.S.: Só agora vi que o template fica horrível em monitores quadrados...

P.S. ²: A filha da puta da alemã que tá usando o PC que eu precisava usar não sai nem por decreto!

P.S.³: E eu tô morrendo de fome.

[Disritmia]

Postado originalmente em 15 de agosto de 2008


Quisera eu ser capaz de traduzir em um conto ponto por ponto da história que me vem à mente.
É um homem. Não importa nome, idade ou tempo. Sei apenas que é casado. Casado é apenas por ser. Porque não há coisa mais imposta pela sociedade do que o casamento.
E há uma mulher. Não a casada com o já dito homem. Outra mulher, uma daquelas que nos vêm à mente quando pensamos em “mulher” no sentido completo. É bela, elegante, inteligente, independente. Veste-se de vermelho, impõe-se e – por que não? – fuma.
É esta mulher o completo oposto da casada. Boa dona-de-casa, mãe e esposa são as últimas coisas que ela sonha em ser. E, por isto, é julgada.
Há ainda a dona-de-casa, embora pareça que pouco tenha-se a dizer dela. Não que seja menos do que a outra mulher desta história, apenas não possuiu a ousadia da primeira. Pode ser tão ou até mais inteligente do que a mulher que fuma, mas jamais se permitiu mostrar ou escolher. E por isto não pode ser julgada.
E eis que o já previsto acontece. O homem fica de joelhos pela mulher que fuma.
Que seja bem dito, não se trata esta de nenhuma destruidora de casamentos ou algo do tipo. Ela o atrai naturalmente, sem ter a intenção. E por ele também se atrai. E se envolvem, e se apaixonam, e se amam. Nada poderia ser mais natural.
Há apenas uma cena que me vem à cabeça, e talvez a este ponto seja necessário dizer que o citado homem é um famoso compositor que há tempos passava pela mais terrível crise criativa de sua vida.
A mulher que fuma o inebria. O hipnotiza, o maravilha. Ela é a mulher definitiva, a mulher ideal de seus sonhos de poeta. Mas há ainda a mulher casada, aquela a quem ele recorre após uma noite entregue ao spleen, à bebedeira, aos desvarios. É a mulher casada que vem a ele com uma banheira de água morna em que ele pode curar sua ressaca. É ela a mãe de seu ou seus filhos.
A mulher que fuma não o cobra. Sabe que é por ele amada, sabe de seus problemas e suas necessidades. Compreende como ninguém a mulher casada e não a julga por assim ser. Há sempre um preço a pagar, e às vezes este preço pode ser caro demais.
Mas como já foi dito, pode bem ser que a mulher casada seja ainda mais inteligente do que a mulher que fuma. E nada passa batido aos olhos de uma mulher que cura a ressaca de seu marido. Ela sabe da mulher que fuma, e chora quieta à noite enquanto espera que o marido retorne.
São dois homens. Há o pai-marido, sisudo, semblante sério, sempre ocupado em seus papéis, escrevendo na solidão de seu escritório. E há o homem-apaixonado, o homem que ama, que ri, que chora e que à mulher que fuma mostra seus escritos e nunca descarta sua opinião.
Agora sim, a cena que me vem à cabeça. Uma pequena apresentação deste famoso e isolado compositor, uma audiência para que ele mostre seus finalmente novos trabalhos. É com este dinheiro que ele sustenta mulher e filhos.
E há na platéia as duas mulheres. A esposa-mãe, quieta e triste em seu silêncio. A mulher que fuma, discreta em sua presença, sentada ao fundo embora que ainda com um belo vestido vermelho.
E o homem então se apresenta. Uma única canção. Triste, apaixonada, dolorosa. Há em seus versos a presença intrínseca e indisfarçável das duas mulheres ali presentes.
Então, pela primeira vez, os dois pares de olhos femininos, úmidos e melancólicos, se encontram. Assim permanecem por minutos que parecem horas. As duas então piscam lentamente, cumprimentam-se com um aceno de cabeças e separam o olhar com dois discretos sorrisos nas faces.

[Mais uma sobre a loucura]

Postado originalmente em 8 de agosto de 2008

Existem momentos na vida em que a loucura tem muito mais sentido em ser do que a mais pura lucidez.
Fiquei tão lúcida que me perdi em meus pensamentos.
Ah, que falta me faz enlouquecer...
Gosto de enlouquecer por alguns momentos. Parar e me perder em mim mesma.
E no mundo.
Antigamente, há não muitos anos, eu era possuidora de uma incrível capacidade de enlouquecer pelo tempo que bem entendesse. E me perdia em pensamentos sem sentido, por mais sentido que eles pudessem fazer. E me punha a apreciar a beleza das coisas - há algo mais insano do que perceber a beleza que uma única palavra pode ter?
Sim, sim, as palavras... Sempre foram elas as culpadas. As palavras que me apaixonavam, as paixões que me enlouqueciam, as loucuras que me perdiam.
Será que tudo pode ser mesmo assim escrito conjugado no pretérito imperfeito? Talvez melhor fosse usar o futuro do pretérito. "Apaixonaria"... "Enlouqueceria"...
Já é clara a minha paixão pelas palavras. O quanto elas me atraem, me hipnotizam, me excitam.
E talvez, às vezes - mas só às vezes -, eu enlouqueça sem ter a consciência de haver enlouquecido.
Será mesmo que um louco sabe o quão louco é?

por Tatiana 

[Um céu de Monet]

Postado originalmente em 29 de junho de 2008


Estava particularmente triste naquela manhã. Não sabia o motivo e não conseguiria responder se lhe fosse perguntado. Acordara triste, com a impressão de que o dia ainda não começara.
Vestiu-se mecanicamente, como se suas mãos soubessem sozinhas o caminho de cada peça de roupa e ela não precisasse guiá-las. Andou de meias pela casa procurando algo que não sabia o que era.
A verdade é que aquela manhã estava diferente. Ela olhava ao redor tentando identificar o motivo, qualquer que fosse. Procurou por algo fora de seu lugar, mas tudo o que pôde ver foi a casa em perfeita ordem. Todas as almofadas sobre o sofá, o controle remoto da televisão colocado corretamente sobre a mesinha de centro, o tapete sem pontas viradas. Na cozinha alguém lavara e guardara toda a louça em seu devido lugar. Enfim, nada parecia fora do que deveria.
Acendeu as luzes do corredor. Era uma manhã escura, como todas as outras de inverno. O sol demorava a nascer, mas seu relógio biológico impedia que ela acordasse mais tarde. Olhou pela janela e muito pouco pôde ver além da camada branca sobre a grama. Nevara durante a noite. Bom, ao menos isso explicava ela ter acordado de madrugada para ligar o aquecedor.
Mas ainda não sabia o motivo de sua tristeza. Olhou para as casas vizinhas, e elas permaneciam no mais absoluto silêncio.
Resolveu sair.
Vestiu suas luvas, escolheu o primeiro cachecol que pôde alcançar, pôs seu casaco e enfiou de qualquer maneira suas botas de andar na neve. Duvidava que houvesse algum comércio aberto, mas pegou algumas notas a fim de comprar pão, caso encontrasse. Fechou a porta da frente e deu uma respirada funda antes de sair andando.
A manhã fria e escura aprofundou a tristeza que ela sentia, beirando à melancolia. Não havia uma única pessoa na rua. As luzes dos postes, acesas, iluminavam pobremente o que o céu escuro recusava-se a iluminar. Ela olhou ao redor, além das casas. Ao longe não havia horizonte, o negro do céu engolia o chão branco em algum ponto que ela não era capaz de definir.
Estacou os passos. Chegara a um pequeno parque destinado às crianças que saíssem da escola em frente. Nenhum poste era capaz de iluminá-la ali.
Sentou-se num balanço, procurando ao redor algo que pudesse ver. Mergulhou de olhos fechados em pensamentos sem importância por vários e vários minutos.
Voltou à consciência quando sentiu a claridade invadir suas pálpebras cerradas. Abriu os olhos devagar, evitando ser ofuscada. E num minuto sua melancolia deu lugar ao embevecimento.
O sol começava a lutar para nascer. Ela podia sentir as contrações do céu, enquanto a curva das montanhas começava a se abrir. A manhã ofegava, as nuvens de branco tentavam a todo custo ajudar naquele parto. O sol começou a aparecer silenciosamente. Lentamente, foi-se espalhando o vermelho-sangue sobre o lençol azul-celeste. Sobras de placenta amarela davam o ar de sua graça na mistura de fluidos coloridos que se formava. As nuvens vestiam-se de todas as cores que poderiam querer, preparando-se para as boas-vindas ao recém-nascido. O sol, por sua vez, saía de seu invólucro escuro atrás das montanhas. Era já quase parte deste mundo. As nuvens começaram a dançar, contorcendo-se em formas quase lúdicas para então se estenderem em mil formas, alinhadas e coloridas como se houvessem sido colocadas ali por algum pincel na gigante tela. Era enfim nascido o sol.
Ela permaneceu mais alguns minutos sentada naquele balanço, ouvindo a cidade acordar para receber o sol. Então se levantou suavemente, como se tomasse todas as precauções para não estragar aquele quadro.
Caminhou para casa com um sorriso nos lábios. Agora, sim, tudo estava em seu lugar. 

[Uma Breve Discussão]

Postado originalmente em 16 de junho de 2008


- Chega. Não há motivos para querer a resposta.
- Além de acabar com esta dúvida, não é?
- Mas você se tortura com esta dúvida. Desista, esqueça. Não há nada para saber, não sabe?
- Se soubesse não haveria dúvida.
- Mas ontem você disse que acreditava.
- Mas hoje já não estou tão certa assim.
- Por quê?
- Porque "estamos todos errados". Eu sei porque estou errada. E ele?
- Ele o quê?
- Qual seu erro? É a mentira?
- Não vê que ele faz isso só para provocar? Só quer deixar você exatamente como você está.
- Então parabéns, ele conseguiu.
- Algumas vezes você me deprime, sabe? Essa sua mania de sempre achar que tem algo errado.
- Eu não "acho". Ele disse.
- Para provocar, oras!
- Tem certeza?
- ...
- Vê? Nem você tem certeza.
- Mas não me torturo com a dúvida.
- ...
- Pare com isso. Não há futuro, apenas mais e mais dúvidas, mais e mais sensações terríveis. Você quer voltar a ser como era antes?
- Não. Aquilo foi horrível. E isso também é. Mas aquilo passou porque não restaram dúvidas.
- Ou porque você não se torturou com elas.
- Ah, chega! Não agüento mais você falando na minha cabeça! Deixe eu ficar com a minha dúvida em paz!
- Você jamais ficará em paz com esta dúvida.
- Por isso preciso saber.
- Não. Por isso você quer saber. Você não precisa saber e sabe disso.
- Então você. Você me diz agora: por nenhum momento a dúvida passa pela sua cabeça?
- Claro que passa. Mas eu não me deixo dominar por isso.
- E se tudo for mentira? E se tudo em que você acredita não passar de pura e deslavada mentira?
- Você sabe tão bem quanto eu que não é mentira.
- Será que sei?
- Vê? Você mesma cria minhocas para colocar na sua cabeça! Esqueça. Pare de pensar na dúvida. Agarre-se ao que você tem certeza.
- Nem sei mais se tenho alguma certeza.
- Agora é você que me irrita, sua emo depressiva do caramba... Não agüento mais ser seu muro de lamentações. Às vezes você consegue ultrapassar o limite da chatisse.
- Então me deixe sozinha!
- Você sabe que eu sempre estarei por aqui.
- Você precisa ser sempre tão racional?
- Só quando você resolve ser tão passional.
- ...
- ...

por mim e mim mesma

[Coisas (não-tão) simples da vida]

Postado originalmente em 7 de junho de 2008

Porque são pequenas coisas que me fazem feliz. Pequeninos flocos de neve, por exemplo.

Diretamente do outro lado do mundo. E não digo isto no sentido figurado, como quem diz "Oh, cruzarei sete mares em busca de meu amor!".
Não. Estou mesmo do outro lado do mundo, muito embora isto seja absolutamente relativo pois eu não estou do outro lado do mundo em relação a mim mesma, estou?
Mas, sim, em relação a você, caro e assíduo leitor, eu estou do outro lado do mundo. A não ser, é claro, que por uma incrível e adorável peça do destino, você esteja perdido pela terra dos Kiwis.
Ah, os Kiwis... Os adoráveis Kiwis... Tão singelos e meigos em suas casinhas de madeira, com carpete no chão e vasos de flores na porta...
Sim, está óbvio que me refiro aos Kiwis humanos, e não aos animais e menos ainda às frutas.
Certo, certo... Volte para a Terra, Tatiana... Você está perdendo comunicação com a Central.
Está bem, está bem... partamos então do princípio de tudo (e não me refiro aqui à célebre questão sobre o princípio da Vida, o Universo e Tudo Mais).
...
Está claro que precisarei de alguns minutos para colocar os pensamentos em ordem, não?
Certo. Contem comigo.

Um...

Dois...

Três...

...

Welcome to New Zealand!

Em outras palavras, estou escrevendo diretamente da Nova Zelândia. Mais precisamente, de um notebook sobre uma cama colocada numa sala por causa da presença indesejável de aranhas no quarto, numa casa em uma fazenda próxima a Rakaia, a cerca de uma hora de Christchurch, a maior cidade da ilha sul da Nova Zelândia.
Sim, eu realmente estou na Nova Zelândia.
Não, ainda não vi Legolas e Aragorns andando por aí. Mas não perdi as esperanças.

Mas... Hã? Como assim, o que estou fazendo na Nova Zelândia??? Por que não avisei, não mandei sinal de fumaça nem deixei a menor palavra por aqui mencionado tal fato?
Oras...
Não sei. Por que tudo precisa ter uma explicação?

Fato é: estou aqui, do outro lado do mundo em relação a você, vendo neve e montanhas do quintal da minha casa.
Legal, né?

É.

Mas, sabem?
Não tenho muito mais para comentar.
Pelo menos não agora.
Já repeti tantas vezes e para tantas pessoas as mesmas informações que simplesmente não tenho mais o que dizer por aqui.
Portanto, só.

por Tatiana