sexta-feira, 7 de maio de 2010

[Marina Morena - parte II]

Abriu-a. Lá estava. O par de alianças douradas encarou-o. Roberto pegou a maior.
- Marina... - leu, como se fosse a primeira vez – Marina, morena... Marina... - cantarolou.
Pegou o retrato dentro da gaveta.
- Viu, Marina? É você. É a sua aliança...
Sentou-se na cadeira.
- Marina... Lembra quando a gente se conheceu? A gente tinha o quê... uns 9 anos? Foi lá no condomínio... Eu tinha acabado de mudar para lá, não conhecia ninguém... - deixou escapar uma risadinha – Lembra o quanto você riu quando eu quis brincar de boneca com você?
Tragou o cigarro com a mesma mão em que mantinha a aliança.
- E depois disso a gente caiu na mesma sala na escola... Quando os meninos queriam brigar comigo, você me defendia. Sempre marrentinha, Marina...
Levantou-se, deixou o retrato sobre a mesa enquanto servia-se mais uma dose de uísque.
- A gente vivia junto, todo mundo falava que a gente ia casar...
Novamente, virou a dose de uísque.
- E aí você foi embora... Para onde foi mesmo que seus pais te levaram?... Ah, é mesmo... Belo Horizonte... Eu chorei uma semana inteira quando você foi.
Tragou o cigarro, serviu mais uma dose.
- Mas você sabe como é... Eu não podia esperar você a vida toda...
Desviou o olhar dos olhos da foto.
- Eu procurei em todas as meninas o que sempre soube que estava em você...
Virou a dose de uísque.
- E aí o Paulo mudou pra escola. A gente tava na oitava. Logo a gente já era brother. O Paulo era... é... muito gente fina.
Pegou o retrato. Um sorriso formou-se de canto.
- Então você voltou. Veio de surpresa na minha formatura do terceirão. Linda, mais linda do que nunca. E aí tudo o que eu quis de repente passou a ser você. Eu sonhava com você de dia, de noite, até quando estava com você. Tudo o que eu queria era sentir a sua boca, saber que gosto maravilhoso você tinha.
Sentou-se na cadeira, tragou fundo o cigarro. O sorriso se esmaeceu.
- Mas aí... Aí... Você conheceu o Paulo...
Roberto deixou a fumaça sair de seus pulmões bem devagar. Fechou os olhos. Apagou o cigarro no cinzeiro que havia no chão. Sentiu a aliança bem segura em sua mão direita. Ergueu-a lentamente. Abriu os olhos, deixando cair duas lágrimas.
- Marina... Marina... Marina... - leu mais uma vez.
Levantou-se da cadeira, deixando o retrato sobre a mesa.
- E se... E se agora... Se agora eu pedisse? Se eu... você...
Ajoelhou-se, estendendo a aliança para o retrato. As lágrimas corriam agora furiosas em seu rosto.
- Casa comigo? Casa comigo, meu amor? Minha Marina... Marina... Tá vendo? Aqui na alianças, tá vendo? É Marina... Marina... É você, Marina!
Cerimoniosamente, Roberto colocou a aliança em seu dedo.
- É a minha Marina, agora. Pra sempre minha Marina!
Levantou-se abraçando e beijando o retrato.
- Minha Marina, minha! Minha! - ele dizia, entre soluços.
Roberto deitou-se no chão, rolando com o retrato.
- Eu te amo, Marina! Te amo! Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Eu! Eu!
Entre lágrimas e uísque, adormeceu com a aliança no dedo.


(continua...) 

Nenhum comentário: