sexta-feira, 7 de maio de 2010

[Marina Morena - parte I]

O porta-retratos estava lá, deitado sobre a mesa. Roberto deu mais uma tragada no cigarro, levantou-se. Pegou o porta-retratos e olhou para os olhos castanhos que o intimidavam. Tragou mais uma vez o cigarro. Marina...
A campanhia tocou, tomando-o de sobressalto. Apagou o cigarro e guardou o retrato de volta na gaveta. Conferiu se estava tudo em ordem, abriu a porta.
- Paulo! Nossa, cara! Tava pensando em você agorinha!
- Oi, Betão! Tudo bom?
- Tudo... E aí? Pronto pro casório?
- Tudo certinho, cara. Cê também, né? Lembra que você é meu padrinho, vai estar amanhã no altar pra me ajudar.
- Ih, cara... Num fala assim... Me sinto meio culpado pelo seu fim...
Eles riram. Paulo jogou-se na cadeira em que Roberto antes estava. Sentia-se em casa.
- Então, Beto... Queria te falar umas coisas...
Coisas? Não, ele não poderia ter visto... A porta estava fechada quando... Roberto olhou para a gaveta, certificando-se de que estava bem fechada.
- Fala, Paulinho... Algum problema?
- Não, não... Mas sabe... Eu tava pensando... Tá meio em cima da hora e tal, mas cê sabe que nem eu nem a Marina temos crianças na família pra entrar de daminha, né?
- Bom, cê num vai querer que eu entre de daminha, né? Nem dá tempo de eu mandar fazer um vestidinho legal pra poder entrar...
- É... é quase isso...
- Cê sabe que eu tava brincando, né?
- Mas então... Como não tem ninguém pra levar as alianças, eu pensei e tal e acho que ia ser bem legal se você levasse.
Roberto sorriu, virou-se de costas. Levar as alianças, como assim?
- Ah, cara... Num sei... Acho que é responsabilidade demais pra mim, cê sabe como eu sou esquecido...
- Isso eu aposto que você num vai esquecer. Afinal, é o casamento dos seus dois melhores amigos!
Melhores amigos... Roberto recostou-se na mesa. Viu-se numa sinuca, não teria como sair dessa. Paulo já estava tirando a caixinha com as alianças do bolso.
- Não tem “não”. Cê num vai fazer essa desfeita com seu brother, né?
- Ah, cara...
- Brigado, Betão! Sabia que cê num ia negar!
Adiantaria negar? Paulo pôs as alianças sobre a mesa.
- Valeu, cara! Agora eu vou que ainda tenho que me preparar pro matadouro.
- Tá, né?
Paulo saiu. Sentia-se em casa.
Roberto olhou a caixinha vermelha sobre a mesa. Suspirou, desviou o olhar.
Já era noite quando ele saiu do banho enrolado na toalha. Fingiu não ter interesse na caixinha vermelha que o chamava. Encheu uma dose de uísque, acendeu um cigarro e sentou-se, de toalha, na cadeira. Olhava impaciente para a caixinha. Bebeu o uísque com um gole só, deu uma tragada no cigarro. Levantou-se, andou em círculos pelo quarto, voltou a se sentar. Tragou fundo o cigarro ao mesmo tempo em que se rendeu. Levantou-se e pegou a caixinha vermelha.

(continua...) 

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